Síndrome do Intestino Irritável (SII)

 

O que é a síndrome do intestino irritável?

A síndrome do intestino irritável (SSI) se caracteriza por dor ou desconforto abdominal associada(o) a uma alteração do hábito intestinal – constipação (prisão de ventre), diarreia ou mesmo uma alternância de um e de outro sintoma. Essa síndrome tem evolução crônica e recorrente e, até o momento, não se demostrou, pelos métodos de investigação disponíveis (exames laboratoriais, radiologia ou colonoscopia), nenhuma anormalidade do organismo (anatômica, estrutural, bioquímica ou metabólica) que possa justificar a presença dos sintomas, ou seja, não se conhece a causa do aparecimento da SII e, por essa razão, é considerada uma desordem funcional do trato digestivo.

A SSI é uma condição clínica muito comum que acomete certa de 10% a 15% da população mundial, predominando no sexo feminino e em faixas etárias mais jovens (25 a 50 anos), sendo menos frequente após os 60 anos. Apesar de ser uma doença de evolução benigna, sem risco de complicações a longo prazo, os múltiplos sintomas associados à síndrome exercem um grande impacto sobre a qualidade de vida dos pacientes, refletindo em suas relações pessoais, sociais e profissionais.

 

Quais são os sintomas mais característicos da SII?

Os principais sintomas são dor e/ou desconforto abdominal, que se acompanha(m) de alterações na frequência, forma ou consistência das fezes (constipação intestinal e/ou diarreia). Atualmente, reconhecem-se três variantes da SII: 1) com predominância de diarreia; 2) com predominância de constipação; e 3) forma mista ou alternante.

É muito comum que os pacientes com SII apresentem também queixas típicas de outras síndromes funcionais tanto digestivas quanto extradigestivas: dispepsia funcional (dor de estômago, azia, digestão lenta e náuseas), fibromialgia, fadiga crônica, cefaleia tensional, entre outras. Esses sintomas são, quase sempre, gravados pelo estresse e ansiedade.

 

Dor abdominal

A dor abdominal geralmente é do tipo cólico ou fincado, intermitente e localizado na região inferior do abdômen. Pode ser desencadeada pela ingestão de determinados alimentos e pelo estresse e, quase sempre, é aliviada pela defecação ou emissão de gases. Alguns pacientes não apresentam dor propriamente dita, mas uma sensação de desconforto ou peso abdominal. A queixa de formação excessiva de gases intestinais, com consequente distensão ou aumento do volume abdominal (estufamento), é também muito frequente, o que aumenta ainda mais a dor e o desconforto abdominal.

 

Diarreia

Nos pacientes com SII e predomínio de diarreia, as evacuações são frequentes e as fezes, amolecidas, de pequeno ou médio volume, em geral sem sangue, pus ou restos alimentares. É comum o relato de sensações de evacuação incompleta, urgência evacuatória e eliminação de muco nas fezes. Nesses casos, a diarreia raramente ocorre durante a noite.

 

Constipação intestinal (prisão de ventre)

No subgrupo de pacientes com SII e predominância de constipação intestinal, as evacuações são pouco frequentes e as fezes, escassas, endurecidas, sólidas ou fragmentadas. São muito frequentes também as queixas de esforço e dor para evacuar e de sensação de evacuação incompleta.

 

Quais são as possíveis causas da SII?

Até o momento, não se conhece o motivo pelo qual os pacientes apresentam SII. Além dos fatores emocionais (ansiedade, estresse e depressão), há muitos anos associados à SII, atualmente são reconhecidas anormalidades da função digestiva, especialmente alterações dos movimentos e da sensibilidade intestinais, além de fenômenos microinflamatórios. Fatores ambientais e dietéticos, assim como fatores genéticos, também podem ser causas da SII. É também possível que infecções intestinais anteriores (gastroenterites prévias) sejam responsáveis pelo aparecimento da SII em um subgrupo de pacientes.

Acredita-se que o tecido muscular do intestino possa ser mais sensível e reagir mais intensamente e de forma exagerada a estímulos habituais, como alimentação, gases e estresse (hipersensibilidade intestinal) nos pacientes com SII. A disfunção muscular pode ocasionar atraso ou aceleração no movimento intestinal e, consequentemente, alteração na frequência, forma ou consistência das fezes. Tem se observado que essas alterações intestinais estão mais evidentes em situações de maior estresse emocional.

 

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico da SII é feito com base nos sintomas apresentados pelo paciente. Além disso, não são observadas alterações ao exame clínico e nos exames laboratoriais, radiológicos e endoscópicos, os quais são realizados com o objetivo de descartar outras doenças que apresentam quadro clínico semelhante, já que não existe nenhum método capaz de comprovar o diagnóstico de SII. Nos casos em que há relato de sangramento nas fezes, anemia, emagrecimento e sintomas noturno, o médico deve pensar em outras possibilidades diagnósticas, como doença inflamatória intestinal, câncer de intestino, doença celíaca e proceder à investigação adequada.

 

Como é feito o tratamento?

É fundamental esclarecer os pacientes acerca de que seus sintomas são decorrentes de alterações funcionais e não caracterizam nenhuma doença grave ou risco de morte. A diminuição do estresse e o exercício físico podem contribuir para a redução da frequência e intensidade dos sintomas, influenciando positivamente o tratamento da síndrome.

Pode ser necessário proceder a alterações na dieta, eliminando alimentos que agravam os sintomas, como comidas gordurosas, café, álcool e bebidas gaseificadas. Uma parcela significativa de pacientes com SII apresenta intolerância à lactose e a retirada o leite e derivados da dieta, nesses casos, é benéfica, com evidente melhora clínica, especialmente da flatulência e diarreia. Outros pacientes melhoram com a redução de alimentos ricos em sorbitol, presente nos adoçantes artificiais e produtos diéticos. Também a frutose (açúcar das frutas), quando consumida em excesso, pode ocasionar flatulência e a diminuição do consumo de frutas, como uva, morango, maçã, além de gelatinas, pode ser benéfica a esse subgrupo de pacientes.

A intolerância ao glutén (trigo, centeio, cevada) pode ocasionar sintomas semelhantes aos da SII, porém a retirada desses alimentos da dieta somente deve ser feita com orientação médica, após a realização de exames que confirmem o diagnóstico de doença celíaca.

A ingestão de um maior aporte de fibras (quer na dieta, quer em suplementos) é recomendada, especialmente a pacientes com a predominância de constipação, mas pode ser indicada para todos os subgrupos. As fibras aumentam o volume fecal, estimulando os movimentos intestinais, e o incremento em seu consumo pode melhorar a função intestinal, a consistência das fezes, o desconforto abdominal e a sensação de evacuação incompleta. Os alimentos que possuem maior teor de fibras são as frutas, verduras e vegetais crus (fibras solúveis), além de pães e cereais integrais que contêm farelo ou grão inteiro (fibras insolúveis). Além dos alimentos, as fibras podem ser consumidas em sua forma sintética, por meio de agentes que aumentam o bolo fecal, como pectina, policarbofila, psyllium e suplementos ricos em fibras solúveis e insolúveis. As fibras devem ser adicionadas de forma gradual, para não aumentar a produção de gases, e a quantidade, adaptada de forma individualizada.

Existem várias opções de medicamentos para tratar a SII. Eles são utilizados para aliviar dor abdominal, diarreia e/ ou constipação intestinal. Contudo, a eficácia desses medicamentos apresenta variações individuais importantes e, por essa razão, somente devem ser utilizados sob prescrição médica.

 

Fonte: Elaborado por Dra. Maria do Carmo Friche Passos